O que os ESPELEOTEMAS podem nos dizer sobre o clima do passado?

Por: Cintia Fernandes Stumpf

O futuro do clima do planeta Terra é muito debatido em todas as esferas da sociedade atual. Uma questão fundamental em relação ao atual aquecimento global é quão rápido os ecossistemas e a humanidade podem se adaptar às novas condições climáticas1. Compreender os mecanismos que controlaram o clima no passado da Terra é de extrema importância se quisermos prever o clima do futuro. Sabemos que o clima da Terra varia naturalmente em diferentes escalas de tempo, desde décadas até milhares de anos. Se conseguirmos compreender quais mecanismos modulavam o clima no passado, podemos assumir que os mesmos mecanismos continuam atuando hoje e no futuro.

Mas afinal, o que as cavernas têm a ver com o clima?

Os espeleotemas, rochas formadas dentro de cavernas, são excelentes arquivos que guardam informações sobre o clima do passado. Diversos cientistas do mundo reconstroem o clima do passado a partir de espeleotemas2. As características do clima de cada região são registradas nos espeleotemas conforme estes são formados no decorrer do tempo, gotinha por gotinha, conforme estas formações delicadas vão se formando3.

A palavra espeleotema tem sua origem do grego, onde spelaion significa caverna e thema significa depósito. Representam sedimentação química que ocorre dentro de cavernas, e são compostos principalmente por calcita ou aragonita, minerais polimórficos de composição carbonato de cálcio. Este tipo de formação ocorre comumente em cavernas maduras, e são formados a partir da água de gotejamento que pinga dos tetos das cavernas ou escorrem por suas paredes. A água em solução que percola pela rocha encaixante transporta íons em solução, e ao atingir os espaços abertos, onde a pressão de CO2 pode ser reduzida em relação à condição de equilíbrio da solução, ocorre à precipitação mineral, formando os espeleotemas4.

Outra característica importante sobre os espeleotemas é que estas formações podem crescer continuamente por até milhares de anos!!! Como o espeleotema se forma a partir das gotinhas de água da caverna que vem da água da chuva, ele registra informações sobre a chuva que formou cada camada. Por isso que devemos evitar passar mão sobre superfícies de espeleotemas que estão molhados e com gotejamentos ativos. O ambiente estável das cavernas contribui para a preservação da informação sobre o clima conforme ocorre a precipitação do espeleotema. É muito importante preservar estas formações de cavernas, pois elas são muitas vezes delicadas e demoram muito tempo para crescer.

Entrada da Gruta do Caldeirão, ornamentada com estalactites, estalagmites e colunas.


1 Chen, Z.-Q., Joachimski, M., Montañez, I., Isbell, J., 2014. Deep time climatic and environmental extremes and ecosystem response : An introduction. Gondwana Res. 25, 1289–1293. https://doi.org/10.1016/j.gr.2014.01.010

2 Riechelmann, S., Schröder-Ritzrau, A., Wassenburg, J.A., Schreuer, J., Richter, D.K., Riechelmann, D.F.C., Terente, M., Constantin, S., Mangini, A., Immenhauser, A., 2014. Physicochemical characteristics of drip waters: Influence on mineralogy and crystal morphology of recent cave carbonate precipitates. Geochim. Cosmochim. Acta 145, 13–29. https://doi.org/10.1016/j.gca.2014.09.019

3 Ruddiman, william F., 2008. Earth’s Climate: Past and Future, second edi. ed. W.H. Freeman and Companey, New York.

4 Ford, D., Williams, P., 2007. Karst Hydrogeology and Geomorphology, Karst Hydrogeology and Geomorphology. https://doi.org/10.1002/9781118684986