Caveatron

O mapeamento tridimensional é uma ferramenta útil à espeleologia e é desejável sua popularização. O mapa de uma caverna é, ainda hoje, uma documentação essencial aos mais variados usos, seja na pesquisa espeleológica, no licenciamento ambiental, nos estudos bioespeleológicos, entre tantas outras aplicações.

Embora sejam confiáveis, as técnicas atualmente consagradas no Brasil para o mapeamento de cavernas utilizam procedimentos demorados e com limitações quanto ao nível de detalhe, deixando-o propenso a erros de métrica (especialmente nos croquis) e, raramente, propiciam o cálculo razoável do volume da cavidade.

Foto por: Pete Lindsley

Nos últimos anos, diversas iniciativas buscaram desenvolver dispositivos que dinamizassem o levantamento espeleotopográfico, sendo o melhor sucedido o sistema integrado DistoX (DistoX, 2017), que executa com rapidez e precisão a aquisição simultânea de todas as instrumentações de uma visada (azimute, declividade e distância), embora as medidas laterais, os nomes das bases e o desenho ainda devam ser realizados separadamente em meio eletrônico ou não. Não obstante a maior rapidez e precisão que o sistema disto X ofereceu aos levantamentos, ele ainda não se tornou realidade na maioria dos grupos espeleológicos brasileiros. Desenvolvido na suíça, este projeto corre risco de descontinuidade por enfrentar dificuldades em manter o fornecimento dos componentes eletrônicos que utiliza, embora espeleólogos estadunidenses estejam buscando refazer o projeto para manter sua produção.

Foto por: Joe Mitchel e Steve Gutting

Concomitantemente ao uso da Disto X, a comunidade espeleológica tem estudado como viabilizar uma varredura eletrônica tridimensional por escaneamento laser móvel do interior das cavernas. Com foco no mercado industrial e tendo por “campo de provas” o ambiente de cavernas, algumas soluções surgiram, a exemplo das tecnologias REVO, RIEGL, LEICA, EXYN e LiDAR, contudo, a um custo inviável para a maioria das associações espeleológicas no mundo e dependentes de soluções de pós tratamento de dados emprestados da engenharia civil.

Neste percurso, a comunidade espeleológica do Texas (USA) vem desenvolvendo uma solução específica à demanda espeleológica, buscando conciliar as técnicas da topografia tradicional com as possibilidades da tecnologia de varredura laser LiDAR. Embora os primeiros sistemas LiDAR fossem volumosos, caros e inadequados ao uso em cavernas, as unidades LiDAR recentes são menores e estão sendo utilizadas com sucesso em cavernas, produzindo resultados impressionantes. Assim, o Caveatron adota uma abordagem integrada, combinando toda a instrumentação (azimute, declividade, distância frontal) ao escaneamento laser LiDAR, de modo a substituir todos os instrumentos e, em alguns casos, até o caderno de desenho, possibilitando o mapeamento bidimensional e tridimensional simultâneo. Uma grande vantagem do Caveatron é a digitalização em movimento, sem a necessidade de tripés ou equipamentos adicionais e, ainda, sua portabilidade, baixo peso e resistência às exigências dos caminhamentos espeleológicos.

Foto por: Joe Mitchel e Steve Gutting

Montagem da primeira unidade CaveAtron no Brasil

Desenvolvido por espeleólogos, em ambiente tecnológico aberto (com hardware e software livres de licença ou patente), cada unidade Caveatron deve ser montada por cada interessado, possuindo um custo de fabricação dentro do razoável (poucas centenas de dólares). Nesse sentido, é de grande valia o estímulo da Sociedade Brasileira de Espeleologia para a construção de uma unidade Caveatron para uso em um grupo de espeleologia brasileiro. possibilitando entender e documentar os desafios envolvidos, tanto na montagem do sistema quanto no seu efetivo uso em cavernas, gerando uma discussão fundamentada quanto a pertinência de sua adoção ordinariamente e, ainda, viabilizando um ambiente de disseminação da experiência e o apoio ao uso por outros grupos espeleológicos interessados.